sábado, 12 de outubro de 2013

Luz para os meus olhos.

  Uma luz que passou pelos meus olhos, me fazendo acordar do sonho obscuro que havia se tornado a minha vida. Dirigindo velozmente, os cabelos ruivos e rebeldes balançando ao vento, a boca destacada pelo batom vermelho-berrante, e sua pele branca como as nuvens.
  Senti-me novamente vivo, e que maravilhosa sensação! Sensação de liberdade, como se, naquele exato instante, eu pudesse sair voando do escritório e seguir a minha amada, ir com ela para onde a vida quisesse nos levar, para qualquer destino. E de que importa o destino? Ora, se a paixão é bem mais forte!
  Não era a primeira vez que eu a via: uma semana antes, num dia quente de verão, estava eu andando pela cidade quando passou por mim uma moça pedindo ajuda.
  - Minha bolsa! - exclamou desesperada, as mãos na testa. - Pegue o ladrão!
  Quando entendi o que ela queria dizer em meio aos seus soluços, corri atrás do meliante e peguei a bolsa de volta.
  - Aqui está - disse eu, entregando-a para a dona.
  - Ah, obrigada - ela respondeu. - Seu nome...?
  - Camilo.
  -Rita, prazer.
  Estendi a mão para cumprimentá-la, mas tudo o que tive em troca foi um olhar sedutor, que ela me lançou antes de dar meia-volta e entrar em seu conversível vermelho.
  Eu já havia esquecido disto quando a vi pela segunda vez, da janela do meu escritório, dirigindo seu carro. Tão breve fora aquela miragem! Um fogo ardia em meu interior, e eu só queria vê-la mais uma vez, para então não nos separarmos jamais.
  Saí do escritório às 19:00 horas, um tanto desnorteado pela gravidade do processo que eu havia lido por último na Advocacia: um caso de amor desesperado que acabara em violência, e o marido agredido pedia o divórcio.
  "Será possível que todos os casais são assim?" peguei-me pensando, "Sofrerei quando me casar?".
  Cract!
  Um ruído seguido de um gritinho agudo me chamou atenção: alguém estava sendo assaltado. Ou melhor (ou pior), pelo timbre do grito, assaltada!
  Comecei a correr intensamente até uma viela escura. Por que cargas d'água aquelas coisas sempre aconteciam quando eu estava passando?
  Mas, chegando ao local do suposto crime, agradeci ao destino em pensamento.
  Caída, as folhas de sua pasta flutuando divinamente sobre sua cabeça e em direção ao chão, estava Rita, meu grande amor.
  - Você está bem? - perguntei, postando-me ao seu lado. Meu coração batendo forte.
  - Estou, obrigada - respondeu ela e, quando me reconheceu, falou sorrindo: - Sempre me salvando, não?
  Dei um sorriso e olhei para o chão, desajeitado.
  - Meu salto quebrou e eu caí - esclareceu ela.
  - Ah, quer ajuda?
  - Claro...
  Peguei em sua mão, e nossos rostos se aproximaram perigosamente quando ambas as respirações se misturaram. Eu podia contar as sardas de suas bochechas, sentir o gosto de sua boca...
  "E nós nos levantamos lentamente... Como se não pertencêssemos mais ao mundo exterior... Como nadadores em um sonho nebuloso... Que não precisassem mais respirar..." como diz aquele velho poema.
- Davi Medeiros Ferreira.

3 comentários:

  1. Ficou ótimo......
    Parabéns Daviiii :)

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  2. Lindo esse conto...romântico e sensível como realmente é o amor!! Parabéns Davi

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  3. Delicado, sensível... Descrições perfeitas.. Amei!!!!

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