Estava ali, solitário como sempre, nadando e se remexendo em meio à água. Os olhos, muito separados um do outro, captavam e se sensibilizavam com a luz do sol que atravessava a superfície do oceano.
Olhou para o pequeno reloginho cuidadosamente envolto em sua nadadeira, pois estava atrasado para a sua importante reunião de trabalho; e foi quando percebeu uma sombra se estendendo sobre seu corpo, uma faixa escura impedindo-o de sentir o quentinho do sol de fim de tarde.
O peixinho olhou para cima e viu uma enorme arraia negra que o mirava como quem diz "ah, finalmente algo suculento!"
Instantaneamente o peixe começou a bater as nadadeiras com mais velocidade: estava aterrorizadamente aterrorizado e se perguntava por que cargas d'água uma arraia daquele tamanho desejava um peixinho tão pequenininho para o jantar.
- Desista, sua arraiazinha de meia-tigela! - disse ele, e logo em seguida achou um buraquinho que servia de atalho para o trabalho, entrou nele e respirou aliviado; conseguira fugir sem sequer um arranhão!
Chegou à Central de Inteligência Contra os Pescadores Humanos, onde trabalhava, e sentou-se à mesa de reunião.
- Agora que todos os agentes já estão aqui presentes - disse Peixovaldo, o vice-presidente. - Lhes apresento nosso novo chefe de operações: Sr. Arraiocleydson!
A arraia que "perseguira" o peixe minutos atrás na verdade era só seu novo patrão, que simplesmente estava indo ao trabalho assim como ele.
Arraiocleydson entrou na sala ofegante, com o mesmo olhar ameaçador - que era seu de nascença -, e sorriu presunçoso, certamente com orgulho de seu novo cargo.
O peixinho, por outro lado, tinha motivos para se preocupar: chamara seu chefe de "arraiazinha de meia-tigela".
- Davi Medeiros Ferreira.
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