sábado, 5 de julho de 2014

Papo entre autores #1: Davi e Carla Pachêco.


Admiro e gosto da Carla Pachêco desde quando a conheci (e nem faz muito tempo). Fiquei sabendo do seu livro, "Perfume de Hotel", quando fiz uma pesquisa pelas obras da Chiado Brasil, ainda no começo do ano.Carla é a motivação em pessoa: ela corre atrás do que quer e raramente tira o sorriso do rosto. Uma palavra que a defina... Hum, "radiante", talvez. E fico muito feliz por ser seu amigo e poder entrevistá-la.



1. Me fala sobre o processo de escolha de Editora para “Perfume De Hotel”. Como conheceu a Editora Chiado?

Sou médica. Todo meu recente trabalho como escritora começou através de busca por informações na internet. Primeiro, fui atrás de saber como construir uma Proposta Editorial que não servisse apenas para aumentar ainda mais as pilhas de papéis sobre as mesas dos editores. Terminada a minha Proposta Editorial, passei a buscar pelas editoras. Queria Editoras de grande porte, já bem estabelecidas e conceituadas no mercado. Fiz um ranking de 10 editoras e mandei a minha proposta. A Chiado Editora foi a primeira a me chamar atenção por ser de porte internacional e especializada na publicação de autores Brasileiros e Portugueses contemporâneos. Como a série de livros Perfume De Hotel se propõe a apresentar ao leitor os perfumes de diversos destinos no exterior, quando a Chiado Editora demonstrou interesse pela minha obra esse meu primeiro olhar acabou prevalecendo na análise sobre as propostas das outras editoras que também quiseram publicar Perfume De Hotel .


2. Você gosta de escrever escutando música? Pergunto isso porque eu gosto, mas o resultado final não sai nada bom quando faço isso.

Sim. Aliás, acho que tenho uma característica um pouco diferente de outros autores. Escrevo escutando música, com barulho... Sou casada, mãe de um casal de filhos e a escrita entrou na minha vida somando-se as outras atividades profissionais que exerço. Conciliar tudo não é uma tarefa fácil, então, escrever para mim é estar integrada a casa, a meu marido e filhos. Enquanto eles estão se distraindo com um seriado na TV, eu estou no meio deles produzindo; enquanto assisto ao jogo Argentina X Bélgica (por sinal, “los hermanos” acabam de fazer 1X0) nessa Copa do Mundo com meu marido, respondo a sua entrevista...

3. Rs, vai dar Brasil e Argentina na final, vai por mim. Enfim, Planeja lançar outros livros?

Estou finalizando o segundo livro da série Perfume De Hotel e o meu primeiro livro com uma coletânea das minhas crônicas. Ambos são para esse segundo semestre. Fica aqui uma sugestão antecipada de presentes de Natal (rsrsrs).

4. Agora que já publicou um livro, qual é o seu maior sonho?

Fazer esse livro e, tantos mais que eu vá escrever realmente “acontecer”! Talvez, escrever e publicar sejam a parte mais fácil dessa história. Para um livro “acontecer”, além de ele ser bom e ter algo de especial, claro, é preciso que o autor viva o livro. É isso que tenho feito. Gosto de sonhar e, se é para sonhar que seja alto, muito alto. É
assim que eu sou! Então, espero que meus sonhos, que são muitos, se realizem e, sejam capazes de me levar muito além das minhas expectativas.

5. Qual é a sua música predileta?

Hummm... muito difícil responder, sou movida a música, minha casa é movida a música. Vou citar então a minha música com meu marido: Un-Break My Heart (Toni Braxton).

6. O que o seu nome, “Carla”, significa? Sabe me dizer?

Claro! Sou intensa e acho que na vida tudo tem um motivo para ser, um tempo para acontecer e um significado. Meu nome tem origem do latim, e quer dizer “aquela que é forte”.

7. Qual é o seu livro preferido? Coloca um trechinho dele na resposta.

Não poderia ser outro, Perfume De Hotel.
Já dizia Mário Quintana: “Viajar é trocar a roupa da alma”.
Era exatamente isso que eu buscava quando decidi fazer este livro. Queria despir minha alma, experimentar e viver intensamente o prazer de descobrir ou de redescobrir um lugar, e compartilhar essa sensação.
Li uma vez que “sentir um cheiro pode trazer a mais bela ilusão aos nossos sentidos”, e eu, eu precisava me iludir. Não se tratava de viver um equívoco, mas de viver as fantasias que eu tinha de cada lugar, de sentir o poder do perfume. (Perfume De Hotel).

8. Quais mudanças ocorreram em sua rotina após o lançamento do seu livro?

Na verdade, tudo vem de muitos antes do lançamento do meu livro. O lançamento é só a ponta do iceberg, tem muito mais que vem antes disso (do que se vê). Viajei para NYC em JAN/13 (foi dessa viagem que o livro nasceu) e, desde então, tudo mudou. Tenho me desdobrado em muitas mulheres, em muitas versões de mim mesma para dar conta do recado.

9. Um filme que te defina.

Nossa! Sou cinéfila.
Impossível se definir em um filme só. Temos algumas coisas de alguns personagens, então, poderia citar dois, mas a lista é bem extensa: “O Impossível” (a coragem e a “mãe leoa”), “Comer, Rezar, Amar” (a necessidade de se descobrir, de se reinventar e, de sempre acreditar e dar uma chance ao amor).

10. O que um livro deve ter para te conquistar?

Em geral, diria que tem que ter 3 coisas: uma bela capa; ser escrito na primeira pessoa; e muita entrega, a ponto de me fazer sentir, viver e me emocionar com o que está impresso ali.

11. Qual mensagem você deixa para quem quer ser escritor?

Acredite no seu sonho e faça acontecer!
“Sonhos definitivamente não são feitos apenas para sonhar, mas para realizar.” (Perfume De Hotel).

E é nesse clima de expectativas para o futuro que termina a nossa conversa.  

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Entrevista com Shirley Cavalcante

Livro de autoria de Shirley Cavalcante.


Shirley M. Cavalcante é paraibana, escritora, jornalista e, o melhor de tudo, idealizadora do Projeto Divulga Escritor, que ajuda os escritores a divulgarem seus livros no Brasil, Portugal e até na Angola! O projeto conta também como uma revista mensal que reúne todas as entrevistas do mês.

        1 .       Olá, Shirley, é um prazer imenso entrevistá-la. O Projeto Divulga Escritor tem crescido e nos apresentado novidades interessantes nos últimos meses. Conte, por favor, como é estar à frente desse projeto. 

          Trabalhar com literatura esta sendo um grande desafio, adoro conhecer melhor a história de cada escritor que passa pelo projeto, estamos construindo uma grande família, espero conseguir vencer os paradigmas impostos no mercado literário e trazer cada vez mais escritores para participar do projeto Divulga Escritor.
      
       2.       Qual é a sua relação com a literatura? Tem algum livro publicado?

    Tenho o livro “Manual Estratégico de Comunicação Empresarial/Organizacional”
Um livro voltado para todos que querem conhecer as principais ferramentas utilizadas pela comunicação empresarial, site do livro www.manualdecomunicacao.com

1    3.       Diga alguma coisa que me surpreenda.

   Você é tão alto, lindo, inteligente...  deve ser muito cobiçado pelas “gatinhas” por onde passa... imagina quando chegar “Pop Star” uhuuu!!  E eu claro que estou no  meio das fãs. (E realmente me surpreendeu pois, quando fiz essa pergunta, esperava uma resposta numérica, e ela não deu uma resposta com números, me surpreendendo, portanto).

1    4.       Qual é o seu poema predileto? Pode deixá-lo na resposta dessa pergunta?

Esse poema  escrito por um amigo, a quem agradeço enormemente, para mim, resume quem sou...

MINHA ...
GUERREIRA SOLITÁRIA
SOLIDÁRIA
MISTO DE MENINA E MULHER
MENINA TRAVESSA
QUA ATRAVESSA A VIDA SEM PENSAR
OU SE APRESSAR
SONHA EM SER
E SENDO NÃO SE DÁ CONTA
MEXE FUNDO
NO PROFUNDO DO MUNDO
BRINCANDO COM OS SONHOS DE MUITOS
SE CONFUNDE
E FUNDE SONHOS E REALIDADE
VAI AO ENCONTRO DE FRENTE
SEM MEDO
MEXE E REMEXE, PRECONCEITOS E TABÚS
CHOCA E ENCANTA
NO PASSO SEGURO DE QUEM SABE O JEITO DE AMAR
INCONSEQUENTE
TIRANDO O SOSSEGO DE MUITA GENTE
ATIÇA
E ESCORREGA PELOS DEDOS COMO MEL
SUGA E TRANSPIRA SENSUALIDADE
CHEIRA LIBERDADE
SIMULA INGENUIDADE
COM PASSOS DE UMA DANÇA REVELADORA
EXPLODE EM EMOÇÕES
E SE ATRAPALHA
NA MAIS VERDADEIRA DAS SENSAÇÕES
CORRENDO AO ENCONTRO DE SÍ MESMA
FUGINDO DO ANONIMATO
MINHA GUERREIRA SOLITÁRIA
CARREGA CONTIGO AS MINHAS PALAVRAS
PARA QUE TE AQUEÇAS
NA SOLIDÃO DA VIDA
POIS O MUNDO TE ESPERA

PEDRO JACKSON LIMA

5. Qual é o seu número predileto? Tem algum?

Não tenho. (O que é uma pena, pois eu achava que todos tinham um número predileto :(. )

1    6.       Que tipo de música gostas de ouvir?

Romântica.

1    7.       Um filme que te defina.

Todos com Angelina Jolie.


1   8.       O que um escritor deve fazer se quiser ser entrevistado pelo Divulga Escritor?

Deve escrever um email para smccomunicacao@hotmail.com
Sempre é bom passar pelo nosso site antes www.divulgaescritor.com

1  9.       Qual é a sua estação do ano preferida? A que mais te inspira?

Todas são maravilhosas. ( E essa foi a resposta que mais me surpreendeu, pois eu esperava que, pelo feitio da Shirley, ela gostasse mais da primavera).

1  10.       Se pudesse ser um animal, qual seria?

1    Dependeria do momento, em alguns momentos eu iria querer ser uma águia para voar, em outros um peixe para nadar, quando me cansar do céu e da água,  uma leoa para na terra ficar.

     Fim da entrevista.






quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Davi Medeiros entrevista escritora Graciela Mayrink

  A simpática escritora Graciela Mayrink nasceu no dia 19 de Agosto de 1975, no Rio de Janeiro. Cursou Agronomia na Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais. Fez mestrado em Fitopatologia na cidade de Lavras (MG), onde ficou até concluir sua tese, em 2002. 
  Desde pequena sempre gostou de escrever e na adolescência se dedicava mais aos versos e poemas. Depois passou a escrever pequenos romances.
  Para o primeiro livro, "Até eu te encontrar", escolheu criar uma história que se passasse em Viçosa, e Flávia, a personagem principal, é baseada em sua irmã.
No começo de sua carreira, Graciela trabalhou sozinha na divulgação de seu livro, até que uma grande editora (Novo Conceito) se interessou pela história.




DAVI - Graciela Mayrink, é um imenso prazer entrevista-la... Você já conquistou fãs, bienais e grandes livrarias... Além de ótimos amigos. Mas, por favor, me conte como tudo isso começou: como surgiu seu gosto pela escrita?

GRACIELA - Eu escrevo desde pequena. Comecei criando revistinhas com a minha irmã e depois passei para os versinhos, na adolescência. Quando entrei na universidade, comecei a escrever romances, histórias de 200, 300 páginas, como uma forma de passar o tempo. Apenas em 2008 que comecei a pensar na escrita como profissão, por incentivo da minha irmã Flávia.

DAVI -  Graciela, poderia me contar como funciona o Projeto Jovem Curte Ler, do qual você é idealizadora?

GRACIELA - É um projeto de incentivo à leitura entre os jovens. Muitos jovens dizem que não gostam de ler, que livro é chato, mas na verdade eles ainda não encontraram aquele que os agrada. Eu visito escolas para falar da minha paixão pela leitura e apresentar livros aos jovens, incentivando eles a procurarem histórias que possam agradá-los.

DAVI -  Fale um pouco sobre a história do livro “Até eu te encontrar”.

GRACIELA - É um livro para quem acredita no amor. É um romance leve, sem ser água com açúcar, que poderia ser real, com uma turma de jovens muito legais que se reúnem sempre para conversar, ir a um barzinho ou fazer um churrasco. É uma leitura rápida, com muitos diálogos e todo o clima de cidade universitária, tudo com um leve toque de magia.

DAVI -  Você tem novos projetos literários? Novos livros para os próximos anos?

GRACIELA - Sim, meu segundo já está pronto, com a editora, e sai ano que vem. No momento estou escrevendo o terceiro livro.

DAVI -   Como a Novo Conceito surgiu na sua história de escritora?

GRACIELA - A Novo Conceito contratou um novo editor para o selo Novas Páginas no início do ano e nós dois começamos a conversar. Ele ouviu falar do meu livro e do meu trabalho para divulgá-lo sozinha e a editora se interessou em relança-lo, o que foi uma surpresa e uma felicidade para mim. Eles confiaram que ainda existe um mercado para Até Eu te Encontrar, devido à grande divulgação e o trabalho que fiz em cima do livro e o fato das pessoas não o encontrarem em nenhuma livraria do país.

DAVI -  Conte sobre a sua relação com outros escritores... Quais são seus melhores amigos no meio literário?

GRACIELA - Tenho bons amigos no meio. A Camille Thomaz Labanca é uma fofa que adotei como minha irmã mais nova, a Janda Montenegro sempre esteve ao meu lado, nas dificuldades e nas alegrias, com a Ana Flávia Abreu sempre troco e-mails, porque ela mora longe. A Patricia Barboza, a Leila Rego e a Marina Carvalho são três amigas que espero levar para o resto da vida, adoro as três. E a Tammy Luciano, que eu conheço desde 2011 e é uma pessoa de que sempre gostei. Ela se tornou uma amiga especial nos últimos tempos, alguém que a cada dia me surpreende mais e com quem eu adoro conversar, trocar ideias e falar de literatura.

DAVI - Bom, foi um prazer entrevista-la... Qual recado você deixa para os leitores?

GRACIELA - Espero que quem tiver a oportunidade de ler Até Eu te   Encontrar, que goste do livro e se apaixone pela história que criei.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Anjo

 Há criaturas cujo destino é se conhecerem
Onde quer que estejam, aonde quer que
se dirijam, um dia elas se encontram
- Claudie Gallay
  
  Kauan havia desaparecido numa tarde de compras em Copacabana, e desde então a mineira Glauce não tinha razões para viver, exceto sair para as ruas desconhecidas do Rio de Janeiro todos os dias, os dias inteiros, procurando pela sua criança. Sete meses já haviam se passado desde o incidente e o pedaço roubado de seu coração ainda não tinha sido recolocado em seu lugar. E ela já estava perdendo as esperanças de que um dia o encontraria para encaixá-lo novamente ali.
  A foto no Facebook já fora compartilhada duas mil, setecentos e trinta e quatro vezes, camisas haviam sido confeccionadas, cartazes, e nada do menino. Dó, era o que as pessoas sentiam da mãe desesperada, que só sabia suplicar e dizer "pelo amor de Deus".
  Glauce parara de comer, de trabalhar, e andava recusando qualquer tipo de diversão. Não digo que estava em depressão, pois quem sofre desse mal não tem a energia que ela tinha ao procurar o filho único.
  Mas para tudo há um caminho, e nem o melhor escritor do mundo sabe costurar as tramas tão bem quanto o destino. 
  Glauce sentiu uma mão tocando o seu ombro.
  - Quer ajuda? - ele perguntou.
  Seus olhos brilharam ao ver o homem. Deviam se conhecer de vidas passadas ou qualquer coisa assim, pois a paixão foi repentina, e em meio a todo aquele desespero, uma chama inesperada surgiu em seu coração. Ele tinha olhos negros como dois besouros miúdos.
  - Você viu meu filho, moço? Pelo amor de Deus, vê se você se lembra de ter achado um garotinho que nem esse na rua, moço!
  - Não vi seu filho, não tenho notícia alguma dele, mas te desejo boa sorte.
  Silêncio.
  - Eu me compadeci da senhora - continuou ele. - Mas não posso fazer nada além de te desejar boa sorte.
  - Obrigada - respondeu ela, e já ia se afastando quando ele tocou novamente o seu ombro e perguntou:
  - Quer um sorvete?
  - Não, eu quero achar o meu filho!
  - Desculpa a sinceridade, mas deixar de se alimentar não vai ajudar em nada.
  Ela fez uma expressão estranha, como quem quer dizer que está ofendido.
  - É verdade - disse ele. - Você não pode deixar de viver por causa disso.
  Ela ofendeu-se ainda mais, e foi embora sem dizer mais nada.
  Ele tirou um papel do bolso, escreveu seu número de telefone, correu atrás dela e colocou-o em sua mão delicada.
  - Se mudar de ideia - o sorriso dele era frio e astuto -, pode me ligar a qualquer hora do dia ou da noite.
  Ela olhou para o papel, depois para ele, e então foi embora.
  No caminho, além de ficar gritando pelo seu filho, fez, mesmo que involuntariamente, o que não fazia havia um bom tempo: observar as pessoas adultas nas ruas, deixando de lado as crianças por alguns minutos.
  As mulheres bem vestidas, madames de Copacabana, bonitas, vaidosas, aproveitando a praia, a vida. Acompanhadas por maridos, namorados ou pretendentes.
  E ela suja, acabada, magérrima, o rosto semelhante a uma caveira.
  Chegou no apartamento, deitou-se no sofá, chorou... E ligou para o homem.
  - Alô - disse ele, o sorriso perceptível pelo tom de voz.
  - Oi, sou eu, a Glauce.
  - Ah, sim, a do filho desaparecido, não é mesmo?
  A frieza dele era instigante e atraente.
  - Eu mesma.
  - Me encontra na Praia da Barra, Posto 5.
  Ele não pediu por favor. Ele não entonou a voz interrogativamente. Era uma ordem.
  Ela desligou.
  Depois de meses de sofrimento e tristeza, estava novamente sentindo o gosto de viver, aquela sensação boa da aventura amorosa!
  Tomou um banho rápido, vestiu uma roupa básica, e foi para o Posto 5 da Barra. 
  Chegando lá, avistou o homem que conhecera mais cedo, com a mesma roupa, o mesmo sorriso astuto e os mesmos olhos de besouros miúdos.
  - Olá - disse ela.
  Ele ficou calado. Simplesmente pegou a mão de Glauce e conduziu-a até o Ponto de Ônibus. Ela não sabia o que ele ia fazer com ela, mas estava adorando aquele suspense. E não se importava muito se ele fosse um maníaco que quisesse matá-la: ela já não tinha razões para querer sobreviver. Conhecer aquele homem e fazer as suas vontades era a prova de que estava desistindo de encontrar seu filho, nada mais.
  De alguma forma, ela havia perdido a vontade de lutar. Não queria mais viver. 
  Entraram no ônibus. Sentaram-se lado a lado. Então ela reparou que nem sabia seu nome.
  - Qual é a sua graça? - perguntou.
  - Meu nome? - ele deu aquele sorriso astuto. - Fábio.
  Ela piscou.  
  Glauce era uma mulher religiosa. Frequentava o culto todo sábado de manhã. 
  A voz do pastor invadiu sua cabeça:
  "Deus é terno e confiável, enquanto o adversário é astuto e enganador".
  Astuto.
  "Astuto".
  Ela entrou na casa escura do misterioso Fábio.
  - Fique à vontade - disse ele e, vendo que ela esperava que ele entrasse primeiro, acrescentou: - primeiro as damas!
  Meio hesitante, ela adentrou a sala iluminada pela lâmpada incandescente que pendia do teto descascado. Pisou no tapete quadrilátero e marrom.
  Sentiu o cheiro de mofo.
  Ouviu passos atrás de si. Mas não passos normais, e sim ferozes. Como se Fábio houvesse ido embora e um lobo tivesse entrado em seu lugar. 
  Ela respirou fundo, fechou os olhos, reabriu-os e começou a correr em direção a cozinha. Ele correu atrás.
  Fábio esbarrou a mão nela, jogando-a contra a geladeira. Ela se recompôs rapidamente e continuou a correr. Tropeçou numa vassoura caída e caiu sobre duas velas acesas. A dor da queimadura foi árdua, e permitiu que Fábio tivesse tempo para pegá-la com força pelo braço e levá-la para a cozinha.
  Ela começou a gritar. Rasgar suas cordas vocais naquele berro de quem está prestes a morrer.
  A voz dele foi mais grossa e mais alta ainda quando ele disse:
  - É O SEU FILHO QUE VOCÊ QUER?
  Ele levantou o tapete e abriu um alçapão.
  - TÁ AÍ O SEU FILHO!
  Então empurrou-a para o buraco escuro.
  Ela caiu lá embaixo com um baque surdo, fazendo com que uma criança começasse a chorar.
  - KAUAN! - ela gritou.
  Foi abraçar o filho raquítico, e as lágrimas dele misturaram-se com as dela.
  - Nós vamos sair daqui, meu filho - prometeu ela. - Mamãe vai tirar você daqui.
  Mas ele não tinha forças para falar, então só retribuiu o abraço com todo o amor do mundo.
   Ela começou a subir as escadas como um animal quadrúpede, usando os pés e as mãos.
  Lá para o décimo degrau havia uma faca, que ela pegou e usou para abrir o alçapão. Kauan, com dificuldade, conseguiu segui-la. 
  Fábio estava lá em cima, sentado numa poltrona, tomando chá e assistindo televisão.
  Frio.
  Astuto.
  Atroz, ela soltou um grito, levantou a faca e foi na direção dele.
  Ele virou-se para trás e olhou-a nos olhos. Um olhar suplicante, implorando pela vida.
  Matar alguém não era tão fácil assim.
  Ela chorou como nunca antes quando terminou o trabalho. Ofegante, olhou para trás e viu seu filho olhando para ela, assustado e chorando sem fazer barulho.
  Kauan havia testemunhado sua mãe cometendo um assassinato.
  "Eu sou uma assassina" ela pensou, "meu filho viu que eu sou uma assassina".
  Estavam salvos, mas nada seria igual. Kauan ficaria traumatizado para sempre, e ela levaria a culpa de ter matado um ser humano para o túmulo.
  - Sai daqui - ela disse ao filho. - SAI DAQUI, AGORA! SAI CORRENDO!
  Assustado, ele obedeceu.
  - NÃO OLHE PARA TRÁS - ela gritou.
  E só depois de ver que seu filho já estava bem longe, correndo pela cidade até achar uma casa segura onde pudesse viver, que Glauce virou a ponta da faca para o seu próprio corpo sem pensar duas vezes.
  Uma música triste começou a soar em sua cabeça. Aquele toque de violão... Nostalgia de sua vida que não voltaria mais.
  A luz do anjo era cegante. Ele não precisou perguntar o que ela queria. Já sabia. Já estava escrito há milênios.
  Então ele pegou a mulher pela mão e a levou ao campo florido. Cavou a terra. Ela foi encolhendo, encolhendo...
  O anjo plantou a semente Glauce na terra negra.
  E Kauan, já com seus vinte anos, passava ali todos os dias caminhando para o trabalho.
  Sentia uma atração estranha por aquela árvore, como se ela o protegesse.
  E não resistia a subir em seus galhos para colher uma seriguela.
  

sábado, 19 de outubro de 2013

Minha primeira sessão de autógrafos!

  Esperava por isso há anos! Quantas vezes sonhei com esse dia? Quantas vezes achei que isso nunca se concretizaria? Muitas!
  Mas Deus é bom e a vida é bela! Hoje, autografei 31 exemplares de "Operação Mico-Leão", e estou feliz e emocionado pelo fato! Obrigado a todos que compraram o livro, Deus os abençoe!
  Espera, ainda não acabou! Dia 9/11, segunda sessão de autógrafos, desta vez na Livraria e Café Viasol, às 19:00! Todos que quiserem ir estão convidados!
  :)

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O Peixe.

  Estava ali, solitário como sempre, nadando e se remexendo em meio à água. Os olhos, muito separados um do outro, captavam e se sensibilizavam com a luz do sol que atravessava a superfície do oceano. 
  Olhou para o pequeno reloginho cuidadosamente envolto em sua nadadeira, pois estava atrasado para a sua importante reunião de trabalho; e foi quando percebeu uma sombra se estendendo sobre seu corpo, uma faixa escura impedindo-o de sentir o quentinho do sol de fim de tarde.
  O peixinho olhou para cima e viu uma enorme arraia negra que o mirava  como quem diz "ah, finalmente algo suculento!"
Instantaneamente o peixe começou a bater as nadadeiras com mais velocidade: estava aterrorizadamente aterrorizado e se perguntava por que cargas d'água uma arraia daquele tamanho desejava um peixinho tão pequenininho para o jantar.
  - Desista, sua arraiazinha de meia-tigela! - disse ele, e logo em seguida achou um buraquinho que servia de atalho para o trabalho, entrou nele e respirou aliviado; conseguira fugir sem sequer um arranhão!
  Chegou à Central de Inteligência Contra os Pescadores Humanos, onde trabalhava, e sentou-se à mesa de reunião.
  - Agora que todos os agentes já estão aqui presentes - disse Peixovaldo, o vice-presidente. - Lhes apresento nosso novo chefe de operações: Sr. Arraiocleydson!
  A arraia que "perseguira" o peixe minutos atrás na verdade era só seu novo patrão, que simplesmente estava indo ao trabalho assim como ele.
  Arraiocleydson entrou na sala ofegante, com o mesmo olhar ameaçador - que era seu de nascença -, e sorriu presunçoso, certamente com orgulho de seu novo cargo.
  O peixinho, por outro lado, tinha motivos para se preocupar: chamara seu chefe de "arraiazinha de meia-tigela".
- Davi Medeiros Ferreira.

sábado, 12 de outubro de 2013

Luz para os meus olhos.

  Uma luz que passou pelos meus olhos, me fazendo acordar do sonho obscuro que havia se tornado a minha vida. Dirigindo velozmente, os cabelos ruivos e rebeldes balançando ao vento, a boca destacada pelo batom vermelho-berrante, e sua pele branca como as nuvens.
  Senti-me novamente vivo, e que maravilhosa sensação! Sensação de liberdade, como se, naquele exato instante, eu pudesse sair voando do escritório e seguir a minha amada, ir com ela para onde a vida quisesse nos levar, para qualquer destino. E de que importa o destino? Ora, se a paixão é bem mais forte!
  Não era a primeira vez que eu a via: uma semana antes, num dia quente de verão, estava eu andando pela cidade quando passou por mim uma moça pedindo ajuda.
  - Minha bolsa! - exclamou desesperada, as mãos na testa. - Pegue o ladrão!
  Quando entendi o que ela queria dizer em meio aos seus soluços, corri atrás do meliante e peguei a bolsa de volta.
  - Aqui está - disse eu, entregando-a para a dona.
  - Ah, obrigada - ela respondeu. - Seu nome...?
  - Camilo.
  -Rita, prazer.
  Estendi a mão para cumprimentá-la, mas tudo o que tive em troca foi um olhar sedutor, que ela me lançou antes de dar meia-volta e entrar em seu conversível vermelho.
  Eu já havia esquecido disto quando a vi pela segunda vez, da janela do meu escritório, dirigindo seu carro. Tão breve fora aquela miragem! Um fogo ardia em meu interior, e eu só queria vê-la mais uma vez, para então não nos separarmos jamais.
  Saí do escritório às 19:00 horas, um tanto desnorteado pela gravidade do processo que eu havia lido por último na Advocacia: um caso de amor desesperado que acabara em violência, e o marido agredido pedia o divórcio.
  "Será possível que todos os casais são assim?" peguei-me pensando, "Sofrerei quando me casar?".
  Cract!
  Um ruído seguido de um gritinho agudo me chamou atenção: alguém estava sendo assaltado. Ou melhor (ou pior), pelo timbre do grito, assaltada!
  Comecei a correr intensamente até uma viela escura. Por que cargas d'água aquelas coisas sempre aconteciam quando eu estava passando?
  Mas, chegando ao local do suposto crime, agradeci ao destino em pensamento.
  Caída, as folhas de sua pasta flutuando divinamente sobre sua cabeça e em direção ao chão, estava Rita, meu grande amor.
  - Você está bem? - perguntei, postando-me ao seu lado. Meu coração batendo forte.
  - Estou, obrigada - respondeu ela e, quando me reconheceu, falou sorrindo: - Sempre me salvando, não?
  Dei um sorriso e olhei para o chão, desajeitado.
  - Meu salto quebrou e eu caí - esclareceu ela.
  - Ah, quer ajuda?
  - Claro...
  Peguei em sua mão, e nossos rostos se aproximaram perigosamente quando ambas as respirações se misturaram. Eu podia contar as sardas de suas bochechas, sentir o gosto de sua boca...
  "E nós nos levantamos lentamente... Como se não pertencêssemos mais ao mundo exterior... Como nadadores em um sonho nebuloso... Que não precisassem mais respirar..." como diz aquele velho poema.
- Davi Medeiros Ferreira.